A decadência do Rio Grande do Sul: 2018–2025
Crítica ao Governo do Rio Grande do Sul
O governo do Rio Grande do Sul, nos últimos anos, tem se apresentado como um projeto de austeridade disfarçado de modernização. O discurso oficial enfatiza responsabilidade fiscal e equilíbrio das contas públicas, mas a prática revela um caminho marcado pela alienação do patrimônio estatal e pela fragilização de políticas públicas essenciais.
A venda de empresas estratégicas, como a CEEE, a Sulgás e a Corsan, foi justificada como medida necessária para reduzir o endividamento e “desafogar” as finanças do Estado. No entanto, o que se vê é a entrega de serviços básicos ao setor privado, sem garantias de melhoria para a população e com riscos claros de aumento tarifário. Ao mesmo tempo, o Estado abre mão de fontes permanentes de receita, aprofundando a dependência de repasses federais e de empréstimos futuros.
Outro ponto crítico é a adesão ao Regime de Recuperação Fiscal. Vendido como a única alternativa viável, esse mecanismo congela investimentos sociais, limita reajustes salariais do funcionalismo e compromete a capacidade do Estado de planejar políticas públicas de longo prazo. A lógica que prevalece é a de atender às exigências de credores, e não às necessidades da população gaúcha.
Na esfera social, as consequências são visíveis: sucateamento de escolas, hospitais pressionados por falta de recursos e servidores desvalorizados. O discurso da eficiência esconde a precarização do serviço público e o distanciamento crescente entre o governo e as demandas da sociedade civil.
A decadência do Rio Grande do Sul: 2018–2025
O Rio Grande do Sul, historicamente uma das locomotivas do Brasil, atravessou entre 2018 e 2025 um processo paradoxal: de um lado, ajustes fiscais e liquidez aparente; de outro, perda de protagonismo econômico, venda de ativos estratégicos e dependência de medidas emergenciais que comprometem o futuro.
O início da crise: 2018
Em 2018, o Estado estava à beira do colapso.
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Dívida com a União: R$ 63 bilhões (86% da dívida total).
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Caixa único: R$ 8,3 bilhões em atrasados a fornecedores.
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Precatórios: R$ 15,7 bilhões.
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Pessoal/RCL: 70,2% (muito acima do limite da LRF).
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Investimentos públicos: apenas R$ 1,8 bilhão.
Era um cenário de salários parcelados, fornecedores sem receber e o Estado incapaz de investir.
O governo Eduardo Leite e os “alívios extraordinários”
A partir de 2019, o governo Eduardo Leite construiu seu discurso em torno da “responsabilidade fiscal”. Porém, a espinha dorsal desse ajuste não veio de reformas estruturais sólidas, mas de medidas extraordinárias, de efeito curto e custo alto para o futuro.
1. Privatizações em série
A alienação da CEEE, da Sulgás e, mais recentemente, da Corsan trouxe bilhões ao caixa e permitiu quitar passivos. Contudo, tratou-se de receita não recorrente.
➡️ O Estado ganhou fôlego imediato, mas abriu mão de patrimônio estratégico e de receitas futuras (dividendos, ICMS sobre energia, água e gás).
2. Suspensão da dívida com a União
Com a LC 206/2024, o RS suspendeu por 36 meses o pagamento da dívida, trocando o indexador para IPCA.
➡️ Alívio momentâneo, com recursos desviados ao pós-enchentes e investimentos.
⚠️ Risco: em 2027, as parcelas retornam corrigidas, aumentando o peso do passivo, que em 2025 já somava R$ 103 bilhões.
3. Renegociações e alongamentos
A LC 212/2025 abriu nova renegociação: até 360 meses, com juros entre 0% e 2% + IPCA. Na prática, empurra o problema adiante, sem atacar a raiz estrutural da dívida.
O contraste com o Paraná e a perda de protagonismo
No mesmo período, o Paraná ultrapassou o RS como 4ª maior economia do Brasil:
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2020: ultrapassagem consolidada.
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2022: PIB do Paraná (R$ 614,6 bi) superou o do RS (R$ 593,6 bi).
Enquanto o Paraná diversificou sua economia, modernizou infraestrutura e atraiu novos investimentos, o RS seguiu preso ao ciclo de dependência da agropecuária e vulnerável a choques climáticos (secas, enchentes).
➡️ Resultado: menor crescimento, perda de arrecadação e fragilidade fiscal permanente.
O retrato de 2025
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Dívida com a União: R$ 103 bilhões.
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Precatórios: R$ 16,6 bilhões (apesar de pagamentos recordes).
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Atrasados a fornecedores: zerados (vitória parcial).
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Pessoal/RCL: 55% (dentro da LRF, após cortes e reformas).
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Investimentos: R$ 5,2 bilhões (impulsionados pela suspensão da dívida).
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Receita Corrente Líquida: R$ 92 bilhões (↑ 55% desde 2018).
À primeira vista, o quadro é mais “sustentável” que em 2018. Mas esse equilíbrio se sustenta em dois pilares frágeis: recursos das privatizações e suspensão temporária da dívida.
A crítica central
O governo Eduardo Leite optou por comprar tempo, mas não por construir futuro.
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Vendeu patrimônio estratégico.
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Suspendeu obrigações para liberar caixa.
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Aplicou recursos em reconstrução e investimentos pontuais.
Mas a base econômica do RS continua frágil, o PIB perdeu posição relativa e o Estado permanece dependente de medidas externas (União, renegociações, calamidades).
Em resumo: entre 2018 e 2025, o Rio Grande do Sul saiu do colapso para a “estabilidade artificial”. Os indicadores melhoraram, mas sobre um terreno instável. O risco é claro: quando o relógio fiscal marcar 2027, o Estado pode se deparar novamente com a velha realidade de estrangulamento financeiro — só que agora sem empresas públicas estratégicas para vender e com menos espaço para manobra.
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